Use-o ou o perca
Quando fui para a faculdade de medicina, todos acreditavam que nossa cota de células cerebrais estava presente ao nascer. Talvez pudéssemos fazer uma ou outra nova conexão entre elas, isso era assunto meio tabu, mas aumentar o número de neurônios na idade madura era considerado heresia. Hoje é bobagem.
Achávamos que, caso houvesse alguma lesão no cérebro, as células nervosas perdidas jamais se regenerariam. Muito menos novos neurônios no local da lesão. Mais bobagem.
A virada do milênio trouxe o conceito da neuroplasticidade – basicamente, formamos novos neurônios no cérebro a toda hora.
Um excelente artigo de pesquisa realizada na Espanha mostra que geramos novos neurônios até a espetacular idade de 87 anos!*
Não só heresia, mas quem dissesse uma coisa dessas há 40 anos atrás seria tratado com calmantes e camisa de força.
Essas descobertas poderão ajudar os médicos a diagnosticar a doença de Alzheimer em um estágio inicial. Depois, será possível identificar aqueles que correm maior risco e beneficiá-los com algum tipo de intervenção capaz de aumentar a produção de novas células cerebrais.
Essa pesquisa colocou luz na escuridão através de uma bateria de testes no tecido cerebral doado por 13 indivíduos que morreram entre 43 e 87 anos. Todos eram neurologicamente saudáveis antes de morrer. Todos declararam que queriam doar o cérebro às pesquisas.
Embora novos neurônios sejam formados em todas as idades, percebeu-se que as taxas de neuroplasticidade caem conforme a pessoa envelhece. Embora os cérebros saudáveis produzam neurônios novos, esse número cai conforme apessoa envelhece. Nada extraordinário, envelhecer significa isso mesmo para todos os órgão e tecidos. Entre as idades de 40 e 70, o número de neurônios frescos detectados na parte do cérebro estudada caiu de cerca de 40.000 para 30.000 por milímetro cúbico.
Essa análise foi realizada na parte do cérebro chamada de giro dentado. É a parte do hipocampo que desempenha papel central na aprendizagem, memória, humor e emoção. A redução gradual de novas células cerebrais anda de mãos dadas com o declínio cognitivo que vem com a idade. Isso sugere que, na meia-idade, cerca de 300 neurônios a menos por milímetro cúbico são produzidos no giro dentado a cada ano que avança.
É confirmação do adágio que diz que o cérebro é um órgão que você use it or lose it (use-o ou o perca, em tradução livre).
Há para mim, um grupo restrito de decisões que podemos tomar para frear essa perda e estimular a neurogênese e a neuroplasticidade. Exercício físico, jejum intermitente, mindfulness e luz infravermelha. Sou franco adepto de todos. Eles serão esmiuçados no dia a dia do meu blog. Aguarde.
* Maura Boldrine e cols. Human Hippocampal Neurogenesis Persists throughout Aging.
Obrigado a Jesse Orrico/Unsplash pela imagem acima.