Em plena pandemia, as coisas não andam fáceis, com o número de novos casos subindo, ondas de novas cepas se sucedendo e mais pessoas morrendo. Para piorar as coisas, do ponto de vista da ciência, surge um artigo de jornal especializado que é, para dizer o mínimo, desconcertante. Mas seguramente interessante.

O artigo se chama Parkinsonismo como uma terceira onda da pandemia COVID-19? O ponto de interrogação no final do título foi lá colocado pelos autores que são da Universidade de Melbourne. É uma questão realista pra ser enfrentada e planejada.

O que tem os sintomas semelhantes aos do Parkinson a ver com a COVID-19? Os pesquisadores destacam que os médicos que trataram os pacientes no grande surto na Itália ficaram surpresos com o número de pacientes hospitalizados que relataram perda do olfato. Este não é o único sintoma neurológico descrito na Covid-19, mas é o mais comum. Existem muitos relatos de pessoas com uma forma leve de COVID-19, isso quer dizer, com poucos sintomas, mas com perda do olfato. As imagens de ressonância magnética mostram que em alguns desses pacientes há alterações cerebrais.

Alguns pacientes desenvolveram encefalite. A encefalite é uma enfermidade terrível na fase aguda e pode deixar sequelas irreparáveis.

Muitos dos que me leem aqui terão ouvido falar do falecido Dr. Oliver Sachs, neurologista e escritor de, entre outras obras, Tempo de Despertar (Companhia das Letras, 1997) que conta a história do efeito do recém-lançado medicamento chamada de levodopa em pacientes catatônicos há anos e com sintomas semelhantes aos do Parkinson. Esses pacientes haviam tido encefalite no passado, a maioria deles decorrente da gripe espanhola. Esses pacientes inicialmente se recuperaram da encefalite, mas sem que eles soubessem que outra lesão cerebral estava em curso. Com o tempo, ela desembocou no que se tornou conhecido como parkinsonismo pós-encefalítico.

O Dr. Oliver Sachs tem um extraordinário poder de descrição. Awakenings foi transformado em um filme e tinha o falecido Robin Williams como estrela, além de Robert de Niro. Vale a pena ver o filme.

Os autores do artigo não estão dizendo que o parkinsonismo vai aumentar como resultado da pandemia, mas apresentam argumentos para essa possibilidade.  Quem tem a doença de Parkinson ou a versão conhecida como parkinsonismo sabem que as opções de tratamento são limitadas. Não há cura para nenhuma dessas doenças. Junto com a doença de Alzheimer, elas representam as doenças neurodegenerativas de crescimento mais rápido e mais caro do mundo. Se houver uma escalada dramática de pessoas com parkinsonismo na próxima década como resultado da pandemia, haverá muito com que se preocupar.

Link para o artigo Parkinsonism as a Third Wave of the COVID-19 Pandemic

A foto acima é do Dr. Oliver Sacks.